domingo, junho 22, 2008

Paro e penso
relembro os momentos em que
nossas melodias se confundiam.
Agora, o que há nunca houve
nunca pensamos haver.
O tempo é que é absoluto
e a vida não segue estática...
Ela segue como um rio, segue
pras suas afluências
Até as melodias [perpetuadas em nós]
continuam se confundindo
embora em outros tons,
outros toques.
Sei de fato da função absoluta do tempo,
bem como sei do fim das coisas...
Portanto em mim
guardarei reticências para outros
e para nós, o ponto final.

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sábado, junho 21, 2008

O pássaro.

O pássaro desampara-se em seu vôo
quer esquecer as asas
subir do nada até o vazio onde
será matéria e feito luz

deita-se no sol
é o que não é ainda
igual ao sonho de que vem
e não sai
traça com morte a curva do amor
vai.

da consciência ao mundo
encandeia-se
aos trabalhos de sua vez, extrai
a dor da dor, extrai
a dor da dor, desenha

seu delírio claro
de olhos abertos
canta de incompletude.



Extraído de "Incompletamente", de Juan Gelman,
transcrição de Haroldo de Campos.