Sente esse cheirinho de azul?
Esse cheiro bom de braços abertos?
Avó não deveria morrer nunca. Principalmente quando compartilha conosco de momentos tão únicos. Quando ensina pra gente que não há porque perder tempo brigando, proibindo ou competindo. Pra quê fazer isso se o que poderia estar sendo feito eram as permissões, a partilha, as confidências...?
Os momentos com a avó são únicos. A comida gostosa, o cabelo cheiroso, a risada engraçada e todos os trejeitos devidamente guardados na memória. E o que me resta é a consciência tranquila do amor gratuito. Sem cobranças.
É desse amor que se sente falta a vida toda. E essa mesma vida, há de ter arrebatado um corpo para o desconhecido mas, de mim não arranca as boas lembranças de amor bom, nem as bênçãos tomadas e nem o olhar terno. Isso não.
Prestes a completar seis anos de uma ausência tão presente fico a imaginar o tanto de tudo que poderíamos estar fazendo juntas. O muito a dizer.
Queria mesmo era uma fórmula pra fazer entender que a morte é processo irreversível e o que se pode fazer é viver, apesar de tudo.
É acontecimento dolorido que leva pra longe um pedacinho da alma de quem fica.
É uma saudade que não tem fim nem começo. É o momento em que queria as asas dos sonhos inexplicáveis e ir ao encontro daquele cheiro que tanto faz falta.